“Como possibilitar que a genética de um criatório, representada pelos principais garanhões, alcance matrizes e doadoras nos quatro cantos do país.”
Apesar de a congelação de sêmen equino ser uma tecnologia relativamente conhecida por técnicos e criadores, muitos medos infundados e mitos ainda se perpetuam, o que por vezes impede a adoção deste método importante ao desenvolvimento da reprodução equina e dificulta a sua utilização merecida no dia-a-dia da indústria equestre, assim como deixa de contribuir na evolução de alguns criatórios.
Muito mais pode ser obtido deste recurso com potencial tão negligenciado, e por vezes preterido devido a antigos conceitos e obstáculos técnicos já em muito superados pelo avanço das pesquisas nos recentes anos. Atualmente é uma possibilidade real o garanhão estar disponível simultaneamente para diversos haras do país, sem os percalços inerentes ao transporte do sêmen resfriado.
As aplicações para esta técnica melhor sedimentadas no pensamento de criadores são a sua capacidade de preservar indefinidamente a genética de um garanhão, ou como um dos últimos recursos cabíveis quando se perde inesperadamente um garanhão desejado. Sendo, neste caso, as gônadas recuperadas para posterior congelação dos espermatozóides ali armazenados.
A seleção de muitos garanhões ao longo de gerações nos presenteou com muitos que possuem qualidade seminal e congelabilidade boas, mesmo não tendo sido este o critério direcionador para os cruzamentos. De qualquer modo, mesmo para os garanhões com baixa congelabilidade, nas circunstâncias tecnológicas atuais, não há justificativa para a utilização tão exígua desta técnica de suma importância.
Diversos garanhões antes limitados à monta natural, à utilização do sêmen fresco/diluído ou ao resfriamento e transporte do sêmen, com os atuais meios de congelação, protocolos e suplementações disponíveis, possuem congelabilidade satisfatória e ejaculados com pouca variação na motilidade espermática, vigor e qualidade de membranas pós-descongelamento. Da mesma forma, as inovações nos permitem utilizar essa metodologia para a inseminação de um número maior de éguas, pois a ocorrência de reações uterinas indesejadas em algumas doadoras especificas foi reduzida com novos meios de congelação e, além disso, novos procedimentos e medicações foram desenvolvidos para melhorar a fertilidade nestes animais.
A necessidade de palpação retal frequente era mais um entrave ao emprego dessa tecnologia e também neste ponto há avanços. A atual acurácia permitida na predição de ovulação é muito superior e se deve ao maior conhecimento das características ultra-sonográficas da parede do folículo pré-ovulatório e também ao melhor entendimento da foliculogênese após a divergência folicular, conhecimentos em muito adquiridos com a utilização da ultra-sonografia Doppler que permite avaliar as modificações da vascularização na parede do folículo pré-ovulatorio quando se aproxima o momento da ovulação, equipamento que no futuro poderá se tornar mais um recurso empregado na rotina da fisiopatologia da reprodução. Estes conhecimentos associados às medicações indutoras de ovulações – usadas cada vez mais em menores doses e com maior eficiência – nos permitem um controle mais seguro das ovulações e com intervalos maiores entre exames, além de possibilitar a sincronização de várias éguas para serem inseminadas no mesmo período, maximizando a eficiência do médico veterinário, presença indispensável no ato da inseminação por essa técnica.
Em algumas raças a limitação do número de palhetas utilizáveis por inseminação, assim como a comercialização das palhetas independentemente de suas conversões em produtos futuros, exclui diversos criatórios de um uso pleno da técnica. No entanto, a abordagem pode ser diferente, bastando que o sêmen dos garanhões esteja disponibilizado em botijões nos haras ou centrais de reprodução pelo país, sendo o número de palhetas por dose inseminante e demais características do sêmen congelado informadas pelo laudo do médico veterinário responsável pela congelação. Dessa forma a comercialização se daria com base nos produtos gerados por cada criador interessado e mediante prévio acordo de valores, semelhante ao que ocorre na inseminação com o sêmen resfriado, porém sem os mesmos entraves na logística do transporte, podendo expandir o número de produtos que um garanhão gera no ano, além de ofertar ao proprietário da égua doadora um portfólio muito maior de garanhões acessíveis para os seus cruzamentos.
A utilização dessa forma de inseminação deve ser apreciada por criadores que desejam ampliar o alcance da genética de seus garanhões, proprietários de matrizes e doadoras e médicos veterinários responsáveis pela reprodução destes haras, como uma opção eficaz desde que realizada com critério e conhecimento técnico. Deve-se levar em consideração a dificuldade de acesso das propriedades, a distância dos garanhões desejados e ainda os problemas advindos da utilização de sêmen resfriado, que muitas vezes chega em horários extremos, com baixa qualidade após o transporte, sendo susceptível aos atrasos, feriados e alterações de vôos, além de colocar em risco muitos profissionais que precisam correr contra o tempo, buscando chegar no prazo hábil para o recebimento do sêmen e inseminação das éguas antes de suas ovulações, situações que não ocorrem com a utilização do sêmen congelado.
Alguns Pontos Positivos da Congelação de Sêmen Equino
► A genética do garanhão alcança simultaneamente diversos criatórios
► Privilegia profissionais mais capacitados tecnicamente
► Reduz a perda de ovulações por recebimento de sêmen com baixa qualidade
► Facilita a utilização do garanhão por haras distantes de grandes centros
► Eleva o número de produtos do garanhão/ano
► Permite utilizar o sêmen de um garanhão convalescente ou em exposições
► Facilita testar uma doadora distante com diversos garanhões
► Não prejudica o envio de sêmen na estação, pois é realizada na baixa estação
► Possibilita ajustar o horário das ovulações/inseminações
► Permite usar sêmen de boa qualidade, mesmo estando o garanhão esgotado no final da estação
► Permite inseminações diárias acima do limite das doses resfriadas e enviadas
► Exime o criador dos riscos de hospedar um garanhão alheio em seu haras
► Os materiais necessários para os procedimentos são de fácil acesso e baixo custo
Obstáculos a Serem Observados
► Garanhões que ainda não apresentam boa congelabilidade
► Éguas com reações uterinas indesejáveis após a IA
► Exige a presença de um médico veterinário para a avaliação folicular e inseminações
► Os índices de fertilidade podem ser inferiores ao sêmen resfriado e à monta natural, dependendo da qualidade do sêmen congelado e sua manipulação no descongelamento, do controle folicular, e do procedimento na inseminação.
Por: Dr Márcio Menezes Nunes Médico Veterinário formado pela UFV Viçosa/MG e especialista em reprodução equina assistida. Possui vivência internacional com pesquisas relacionadas à aspiração folicular, foliculogênese, transferências de embriões e espermatogônias, além de vasta experiência acumulada ao longo de anos de assistência técnica na reprodução equina em diversos criatórios. Atualmente é o responsável pela gestão da área técnica de equinos da Minitub do Brasil.
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